Tradição & Livros

Hoje fui à baixa de Tavira pela manhã e deparei-me com a livraria mais antiga de Tavira aberta. O Sr. que esteve à frente dela uma vida toda, um grande conhecedor de tudo o que dizia respeito ao nosso concellho e não só, morreu há uns anos, desde aí a mulher abre as portas, quando pode, durante umas horas na parte da manhã.

É tradição minha comprar um livro sempre que lá passo e a livraria está aberta.

Hoje não foi excepção, só espero ainda voltar a repetir esta tradição por bastante tempo.

Claro que já não há livros novos, agora aquilo parece mais um alfarrabista. Hoje comprei dois livros de um valor sempre seguro, Eça de Queirós. Um é da colecção "Livros do Brasil", o outro é da "Lello & Irmão - Editores", de 1978, e é daqueles livros em que as páginas nem vêm cortadas e nada aconselháveis a quem sofre de qualquer tipo de alergia ao pó! :)

Mais do mesmo

Todos os dias mais do mesmo… falo, como é óbvio, das histórias dramáticas de pessoas apanhadas no desemprego e empurradas para a pobreza.

Há pouco, ao ver mais uma dessas reportagens, voltei a lembrar-me de um livro que me marcou profundamente, “Romance de Cordélia” da Rosa Lobato de Faria.

Desengane-se quem acha que esta é uma escritora light e para mulheres.
Este é um romance extremamente fácil de ler e, ao mesmo tempo, com uma densidade impressionante.

Dei comigo a gargalhar desalmadamente com as passagens que parodiavam os romances de cordel.
Lembro-me da sensação de frustração que se foi apoderando de mim à medida que o caminho da Cordélia se delineava. Porquê? Pensava. Porque é que ela é assim?
A esperança sempre latente numa reviravolta, afinal desejamos sempre um happy end, ao estilo do romance de cordel ou de qualquer novela mexicana (ou portuguesa) onde os bons são recompensados e os maus castigados…

É uma história extremamente humana, algo kafkiana, que relata o quão fácil pode ser cair, seja pelas circunstâncias da vida, seja pelos caminhos escolhidos, seja por acção do destino.

Considero que é uma leitura interessante, nestes tempos conturbados.

Alvor


Um oásis no Algarve, fora das épocas altas, é claro.

Excelente para passear e aproveitar o sol, quer na praia, quer numa das esplanadas da marginal. Impressionante variedade e qualidade da restauração, quer a nível de espaços, comida, serviço e preços.

Esta vila é uma excelente opção para qualquer tipo de escapadinha.

Amesterdão: Não gostei…

...Daquele canal cheio (a abarrotar!) de gansos (arrepios!); dos pombos, que entravam pelo McDonald’s adentro e passeavam…; da pouca higiene de alguns sítios de fast food, contrária ao standart que estamos habituados em Portugal (a ASAE ainda não chegou lá); do preço da comida, daí ter comido tantas vezes comida de plástico… Não esquecendo que a cidade, por vezes, cheira mal, devido a tantos canais de água estagnada, onde devem ir parar muitos esgotos…

Apesar destas particularidades:
A D O R E I Amesterdão!

Primeiro, o que mais gosto de fazer na descoberta de uma nova cidade, o que permite verdadeiramente captar-lhe a ambiência… andar, andar, andar. No caso de Amesterdão, andar bem depressa, porque o tempo livre foi muito pouco e havia que aproveitar ao máximo, além de que, com o frio que estava, até convinha o passo de corrida para aquecer. Só para o final da estadia é que comecei a suportar mais ou menos bem o frio (e houve um português lá residente que me disse que o tempo até estava bom, há uns dias atrás é que tinha estado agreste, era ver o pessoal todo a patinar nos canais!).

O clima (frio, frio, frio), a arquitectura (edifícios nobres e antigos, monumentos, as cores maioritariamente escuras, o que lhe dá um ar lúgubre), os imensos canais e respectivas pontes (o que lhe confere uma beleza e um romantismo extraordinários), o comércio (muitas lojas de souvenirs, muitos franchisings internacionais e algum comércio típico, como os vendedores de batata frita com molho de maionese), as pessoas…

As pessoas. O que mais me impressionou foi a vertente ciclista, é realmente impressionante a quantidade de bicicletas existentes na cidade. A mentalidade das gentes… Eu ando de bicicleta em dias amenos de sol, eles, na falta do nosso bom tempo, andam quer faça frio, quer faça chuva (basta vestir um impermeável), quer seja de dia ou de noite… depois de uns copos valentes! Alguns sem recorrer a luvas ou gorros. E sim, as raparigas usam mini-saias. É tudo uma questão de hábito, é por isso que começam logo a levar os seus bebés nos respectivos veículos. Mas uma coisa é certa, isto das bicicletas funciona, porque a cidade é completamente plana.

Estação Central de Amesterdão

No meu dia de liberdade levantei-me cedo, sem esforço, e segui a pé, desde o limiar do Red Light District, onde estava hospedada (mais no centro da acção era impossível, lol, é aqui que estão as meninas que se exibem através dos vidros), até ao Rijksmuseum. Passei lá a manhã, retive um pintor com o qual não estava familiarizada e que me impressionou muito, Rembrandt. O seu quadro mais famoso é a jóia da coroa do museu.

A Ronda da noite (1642)

Mas o museu vale por tudo, pelos quadros, pelas esculturas, pelas porcelanas, pelas pratas… perdi-me por tudo o que tivesse motivos clássicos.

Passei pelo Hard Rock, onde tomei uma bebida a apreciar a vista e os barcos que dali saíam para um passeio pelos canais.

Seguiu-se o Van Gogh Museum, onde vi quadros de vários pintores conhecidos (por exemplo, Matisse, Goya, Gauguin, Monet) e apreciei muitos dos quadros de Van Gogh, entre eles, os girassóis e os auto-retratos.


Terminei o dia a vaguear pelas ruas desde a zona de Leidseplein, à Dam Square e ao retorno pelo Red Light District. Pelo caminho quase ia sendo atropelada por uma bicicleta, visitei um mercado de flores, entrei em muitas (muitas, lol) Sex Shops…

Ficou a faltar tanta coisa… O Museu da Tortura, o Museu do Erotismo, o Museu da Cera, a Casa de Anne Frank, o Museu da Vodka, o Museu de História de Amesterdão, a Casa Museu de Rembrandt, o Museu do Ajax, o Museu do Gato e tantos mais…

Ao Museu do Sexo também fui, esse não podia faltar!
Quem for a Amesterdão com tempo, a melhor solução é comprar um bilhete geral que dá acesso a quase todos os museus da cidade.

Faltou também a companhia para o Coffeshop!

Espero voltar um dia à Veneza do Norte.

Pedaço de história

Gravura de Tavira, século XVII.
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Na revista de Março sobre o concelho de Tavira encontrei este pedaço de história:

“No passado era comum as mulheres solteiras com dificuldades financeiras abandonarem os filhos na chamada “Roda dos Expostos”. Esta forma de assistência tinha por competência criar as crianças abandonadas até atingirem a idade dos 7 anos. A Roda de Tavira era financiada pelos cofres camarários, por isso quanto maior era o número de crianças, mais despesa tinha a Câmara.
É uma preocupação financeira que está bem patente na acta camarária de 24 de Outubro de 1830. Através da denúncia do vereador Valente, ficamos a saber “(…) que na Freguezia da Conceição existia uma individa que todos os annos tinha um filho, que se dizia ser do Sacristão da dita Freguezia, e que devendo a Câmara olhar por estes dezacatos, que recahião ou pezavão aos rendimentos deste concelho, era do parecer se dessem providencias sobre este assunto(…)”.
Para evitar que a despesa camarária continuasse, foi deliberado na mesma acta que o regedor da referida freguesia “mandasse avizar a dita sugeita, chamada Roza”, para comparecer na sessão da Câmara seguinte, juntamente com Maria das Dores “a Rata” também da mesma freguesia, a fim de ser alertada para esta dispendiosa situação.”

Fabulástico

Regra geral não gosto de saber muito sobre um filme, especialmente quando a maioria das críticas são positivas ou tem alguma nomeação para qualquer prémio.
Ter as expectativas muito elevadas é meio caminho andado para apanhar uma decepção (e o contrário também é verdade).
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Mas quando se tem a fasquia muito alta em relação a um filme e este ainda supera as expectativas, então … a magia acontece! Estou a falar do filme “The Wrestler”.

Uma boa história (e não, aquilo não é só a história de um wrestler, eu pelo menos vi naquele lutador tantas outras vidas…).


Muito bem contada e filmada (a vertente quase documentário, como o Markl salientou, leva a que entremos de tal maneira na vida dele, que ficamos com a sensação de estar a invadir-lhe a privacidade).


Excelentes actores. Para o Mickey Rourke as palavras escasseiam, soberbo, inigualável, sublime… (e sim, ele tem a vantagem daquela ser também a sua história, mas isso não lhe tira mérito, pelo contrário, olhar para dentro de nós, para os nossos sonhos desfeitos, para os nossos erros, para a nossa miséria humana, há-de ser uma catarse bem mais difícil do que pôr-se no lugar dos outros). A Marisa Tomei superou-se também, talvez envolta na áurea de Rourke.

Banda sonora muito bem escolhida. Retive os AC/DC, os Guns e o Boss, com uma música lindíssima, especialmente composta para este filme.

Não posso deixar de mencionar a cena que mais me marcou: quando ele vai pela primeira vez (despojado de tudo e mais alguma coisa) trabalhar no atendimento ao público, no hiper-mercado… o barulho e o silêncio… o sonho e a realidade… é um murro no estômago.

Muito mais haveria para dizer, mas não quero estragar o filme a quem não o viu e tem de ver!